sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

0593. Bom Dia...

«Double Dare», de Simplesmente Maria
Contar-te longamente as perigosas
coisas do mar. Contar-te o amor ardente
e as ilhas que só há no verbo amar.
Contar-te longamente longamente.

Amor ardente. Amor ardente. E mar.
Contar-te longamente as misteriosas
maravilhas do verbo navegar.
E mar. Amar: as coisas perigosas.

Contar-te longamente que já foi
num tempo doce coisa amar. E mar.
Contar-te logamente como doi

desembarcar nas ilhas misteriosas.
Contar-te o mar ardente e o verbo amar.
E longamente as coisas perigosas.

"Coisa Amar", de Manuel Alegre

3 comentários:

Anónimo disse...

Devia ir por aí, na frente do sol,
levar-te uma mensagem, um rebuçado
de funcho, um livro com poemas de viajantes,
de marinheiros ou de eremitas urbanos,
contando o silêncio das pedras das ruas,
dos tempos esquecidos das cidades de bruma,
construídas bem juntinho à espuma cansada
do mar, ao calhau preto do vulcão adormecido.


Precisaria de coragem para ir, agarrado
à madeira rija dos barcos antigos, nas mãos
do vento agreste, orientado pelas estrelas
saltitantes dos navegadores de outrora,
obrigatoriamente proibido de olhar para trás,
para o lugar onde ergueram as pontes,
abriram estradas, montaram as paredes
das casas rumorejantes, onde as noites
se acolhem, nos abraços dos amantes.


Mas não tenho. Não posso partir. Ainda.
A terra prende-me aos seus sulcos, ao cheiro
das ervas, ao canto dos ribeiros, às sombras
das encostas, ao apelo das montanhas,
aos desenhos coloridos da infância, aos luares
que me bateram à janela, ao roçar dos galhos
das anoneiras nas vidraças. E então sento-me
no muro com vista para as falésias distantes,
com as bandeiras da tarde crepuscular
a decorar o azul das escarpas e da babugem,
a me prender para sempre a pele ao esqueleto
da ilha, no cume exacto onde se encontram
as aves que me conhecem desde os primeiros
olhares que lhes dei, sobre a penedia, lendo
a poesia dos canaviais, com a sua música
verdejante. E adormeço, de novo, calmamente,
por aqui, onde o mundo olvidou a necessidade
prosaica de um dia me procurar, em busca de novas.
J.Gonçalves

Anónimo disse...

Cuida-te com "Os Olhares" Ou faz referência à origem das fotos.
Jinhos

Paulo Dâmaso disse...

Violeta,

Todas as fotos estão referenciadas. se deixar o rato em cima delas, das fotos, verá...

cumprimentos...