Os cavalos
Que venerável campo que era o mundo!
Que venerável campo! E nós que lhe fizemos?
Nas escarpas
nos cômoros
nos vales
já não levantam ouro os cascos dos cavalos!
(Esses aí puxavam
a quadriga de ApoIo.
Ficaram sem emprego: o Sol está parado.
Além, o Rocinante. O Pégaso, mais alto.
Limitam-se ao convívio
dos outros reformados:
os cavalos solenes dos enterros
os cavalos festivos das paradas
os cavalos heróicos das batalhas!)
Cavalos, ah! somente o vento vos cavalga!
E são bandos, são tantos e são tristes
sem cavaleiros, nem sequer fantasmas!
(Faltam, contudo, quatro.
De Quatro Cavaleiros que hão-de vir.
A promessa é formal e serão quatro.
Quatro.
Quando virão
remir-nos e remir-vos?)
E entanto que merecido insulto se preferissem
a seus corcéis de luz
quatro aviões a jacto!
David Mourão Ferreira
Canto IV
Os Quatro Cantos do Tempo
(1953-1958)
Obra Poética
1948-1988
4.º Edição
Editorial Presença
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