sábado, 16 de dezembro de 2006

# 1805. [ exclusivo nacional ]

«Em rigoroso exclusivo nacional, publicamos um excerto do livro "Eu, Carolina Salgado" por incúria não incluído na obra agora à venda em todas as grandes superfícies comerciais. Pelo manifesto interesse público do excerto, e depois de garantido o consentimento da autora, reproduzimoze-le-o... reproduzimo-si-o...reproduzimo-li-e-o... enfim, pomo-se-le-o já a seguir.
Arre!

«10 de Abril
O Jorge Nuno está inquieto. Os nervos estão à flor da pele e já me assentou duas lambadas sem motivo aparente. Mas eu sei a causa. O FC Porto vai receber o Riopele para a Taça de Portugal e, sem caldinhos com os árbitros, ele desconfia que vai perder. Ofereço-me para mandar espancar o presidente do Conselho de Arbitragem da Liga. Diz-me que não, que dá muito nas vistas.
Está a amolecer com a idade. E não me refiro só às capacidades para dirigir o clube.

11 de Abril
O alternadeiro do talho, aqui no Ameal, disse que não me fia mais nada sem ver dinheiro. Mandei espancá-lo com um barrote cravejado de parafusos, claro está. Eu não sou dura. Foi a vida que me fez assim.

14 de Abril
Está-se mesmo a ver: sexta-feira à noite e, em vez de sairmos, sua excelência quer jantar em casa com árbitros. E os ares sebosos dos tipos? Um é careca, o outro tem um bigode que me faz lembrar um azeiteiro que trabalhava no Calor da Noite. Só falam de foras-de-jogo e penalties. E só comem fruta e doces, os alarves! Há semanas que não se come outra coisa cá
em casa.
Ao menos, não se perdeu tudo. O Jorge Nuno prometeu-me que me levava este fim de semana ao estrangeiro para ver monumentos e coisas assim. Vai ser tão romântico!

15 de Abril
Grande besta! O fim de semana romântico no estrangeiro, afinal, foi só eu, ele e... mais 300 Super Dragões em Gelsenkirschen. E a o monumento era o estádio dos alemães. Nunca fui tão apalpada na minha vida. Esta gente não sabe que eu sou uma senhora.

17 de Abril
As finanças recusaram a minha declaração de IRS: não me deixam deduzir a aquisição de um varão Inox nas despesas de "material profissional". Sabem eles que isto custa os olhos da cara? Ou pior. Conheço um rapaz que é trolha em Freamunde. Muito jeitoso de mãos. Pedi-lhe para espancar o chefe do 13.º bairro fiscal do Porto.

18 de Abril
Afinal, era engano. O varão pode ser deduzido no IRS. Se o chefe do 13.º bairro fiscal ainda tivesse nós dos dedos, poderia ser ele a fazer a dedução.

19 de Abril
O Jorge Nuno revelou-me hoje que vai voltar para a primeira mulher. De súbito, a minha memória reavivou. Estou a lembrar-me de tudo. Tenho provas de que o Jorge Nuno esteve envolvido em todas as trapaças do século XX, desde a falsificação das notas do Alves dos Reis até ao atentado
falhado contra o Salazar em 1930. E se a TVI me pagar mais, ainda posso comprovar que foi ele quem trouxe a peste negra e o maestro António Vitorino de Almeida para Portugal. E que o terramoto de 1755 só escavacou Lisboa e arredores porque ele mandou»


NOTA: RECEBIDO POR E-MAIL [ paulo.damaso@gmail.com ]

2 comentários:

Anónimo disse...

De Miguel Sousa Tavares "EXIT CAROLINA"

"O que mais me custa, neste sórdido episódio da Dona Carolina Salgado, é vê-la sentada a uma mesa a autografar livros como se tivesse escrito um livro. Não escreveu: para começar, aquilo não é um livro, é um pedaço de papel higiénico que, depois de usado, seguiu para uma tipografia e encontrou uma editora disposta a chafurdar na lixeira. Depois, e como é óbvio, a senhora não escreveu coisa nenhuma, nem tem competência para tal: quem lhe encomendou a sale besogne, escreveu-lhe o livro e, no fim, recolheu-lhe a assinatura e deu-lhe aquele grandiloquente e ridículo título de Eu, Carolina, tipo Eu, Cláudio, obra de referência daquela escritora americana de literatura de aeroporto. O livro da Dona Carolina não é sequer literatura de aeroporto: é um dejecto de ressabiamentos e vinganças pessoais que eloquentemente ilustra não as origens ou a educação, mas o carácter da senhora. Porque, se é certo que a educação demora gerações a refinar, o carácter não tem que ver com isso. Ela não tem culpa de vir de onde veio, tem culpa, sim, de ser como é.

Anónimo disse...

Continuação do comment anterior
Agora, a Dona Carolina vive bem mais do que os seus cinco minutos de fama. Tem as televisões e os jornais aos pés, tem leitores a pedir-lhe autógrafos e tem até (ó, suprema ironia, quem os ouvia a falar dela...!) benfiquistas prontos a acolhê-la e a transformá-la em Maria Madalenaou (deixem-me rir!) Carolina d'Arc. Mas, quando a poeira assentar, a pobre Carolina, como tantos e tantas outras antes dela, vai perceber que falou tanto que se enterrou até ao pescoço e que a validade do veneno que lhe deram para usar não era eterna. Em breve se tornará cansativa, inútil e desagradável à vista. E, então, regressará de onde veio, só que sem câmaras nem holofotes à sua frente e sozinha para enfrentar todos os processos judiciais e chatices de que agora, no seu patético arrebatamento, não deu conta. Exit Carolina." FCP SEMPRE!!!:)