sexta-feira, 15 de setembro de 2006

#1486. É HOJE!

Miguel Newton, vocalista dos Mata-Ratos, que hoje actuam na Figueira da Foz, durante o 5º Festival Rock Brenha Arder


O punk banalizou-se?
*Paulo Dâmaso, in JN

Nunca se subordinaram à MTV, às capas de jornais ou às "playlists" das rádios para imporem o seu desagrado e revolta, transformando-os numa arma de arremesso contra os podres de uma certa sociedade adormecida, de brandos costumes, que os rodeada. Os punks pretendiam sobretudo chocar, com o seu visual e atitude anti-social, a conservadora sociedade britânica da década de 70.

Hoje, 30 anos depois, as preocupações da juventude mantêm-se, pelo que não é de estranhar o revivalismo estético de nova geração punk, tão contraditória quanto os ideais e pontos de vista dentro do próprio movimento, a emergir dos subúrbios, sustentado pelos mesmos ideais de outrora, do "faça você mesmo".

Mas, se para Shakespeare a expressão "punk" significava prostituta, o que é hoje o punk-rock? Será apenas uma utopia? Um estilo de vida ou apenas uma moda? O auge da rebeldia adolescente?

"Punk é, acima de tudo, atitude", classificou, ao JN, Miguel Newton, vocalista da mítica banda punk portuguesa Mata-Ratos, que hoje, pelas 21 horas, tocará no Festival Brenha Arder, na Figueira da Foz.

Mas a verdade é que hoje o punk está banalizado. É mais aceite pela sociedade, pelo que perdeu força. Já não é aquela voz crua e chocante, acompanhada de acordes minimalistas. Poucos dos que hoje se apelidam de punks sabem o que é na realidade o anarquismo ou como glosar a teoria anarquista.

"O punk banalizou-se. Hoje é apenas um produto de consumo. Existem mais bandas mas falta atitude, falta o sentimento de revolta contra o que está mal na sociedade", lamentou o "front-man" da banda de Oeiras, que há 24 anos destila punk-rock "sem corantes nem conservantes" por esse país fora.

No final dos anos 70, bandas como The Damned, Ramones (considerados os principais responsáveis pelo sucesso do estilo), Sex Pistols, The Clash, Dead Boys, Toy Dolls, Buzzcocks ou Dead Kennedys "profetizaram" o mundo, com músicas de três acordes e "meia bola e força".

A crise económica, com jovens sem perspectiva de emprego, o racismo, a industrialização e a globalização foram (e são) petardos de uma geração disparados para todas as frentes de batalha.

No início da década de 80, Portugal despertou para o movimento. Grupos como Mata-Ratos, Aqui del Rock, Censurados, Peste e Sida, Renegados de Boliqueime, Kú de Judas e Crise Total ajudaram (e alguns ainda continuam) o punk "a não morrer".

"Jamais o punk morrerá, mas o que é certo é que muitos que se dizem punks amanhã são outra coisa qualque", criticou.

Nos anos 90, o punk voltou à cena mainstream através dos Green Day, Offspring ou Blink 182. Uma nova "fornada" desconsiderada por muitos fãs puritanos, que acreditam que essas bandas denegriam o nome do estilo.

"Há sempre quem sai fora do rebanho", ironizou Newton.

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