Como jornalista cabe-me, de forma imparcial, analisar e cruzar dados, questionar, ouvir e reproduzir a opinião de outros, sobre os mais variadíssimos temas da actualidade local figueirense. Sobre o assunto que abordarei a seguir guiei-me, no meu trabalho jornalístico, pela linha orientadora da deontologia própria da minha profissão.
Mas, muito antes de ser jornalista, fato que visto 24 horas do dia, já era [e continuo a ser] cidadão do Burgo [Figueira da Foz] e deste país. Como tal não posso deixar de manifestar a minha opinião sobre o “mundo” que me rodeia, um direito conquistado com o “25 de Abril”.
Vem esta introdução a propósito do que vou escrever a seguir.
Já sei que me vão “cair em cima”. É o habitual. Mas tudo bem…
O que me vão fazer? Despentear? [como diz um amigo]…
As eleições para a Comissão Política Concelhia da Figueira da Foz do PS foram feridas de morte… Que António João Paredes as venceria não restavam dúvidas. Aliás, as restantes duas candidaturas concorrentes [de António Jorge Pedrosa e Rui Carvalheiro] admitiram-no, ainda que em conversas privadas. Lá diz o povo, e com razão, “tantas vezes o cântaro vai à fonte…”
Mas a vitória do delegado regional do IPJ está envolta em imundice.
O caciquismo funcionou no seu melhor, ou antes no seu pior!
De uma forma porca, descarada e antidemocrática…
Que se pagam quotas aos militantes na esperança de “sacarem” o seu voto, toda a gente o faz!
Que se realizam almoços e jantares fazendo promessas que, muitas vezes, depois não se podem cumprir, toda a gente o faz!
Mas a atitude descarada, que a lista B, de António João Paredes, teve no passado sábado, nem toda a gente a faz, nem tão pouco o bom senso a permitiria idealizar. Mas António Paredes levou-a em diante!
O acto eleitoral do PS ficou, irremediavelmente, manchado por um “porco no espeto” que, de gratuito passou a ser alegada “receita” para o pagamento de quotas partidárias.
Ficou manchado por uma autocaravana que se transformou numa sucursal móvel de um qualquer banco, com possibilidade de “levantamento” de cheques e dinheiro [qual Multibanco] para o pagamento de quotas dos militantes que votassem na lista B.
A fazer fé nos vários relatos de pessoas, incluindo diversa imprensa, que estiveram no local, claro.
A roulote, localizada a escassos 50 metros da sede do partido, a meia dúzia de metros do almoço oferecido pela mesma candidatura, mais parecia um qualquer ponto de distribuição de droga na Cova da Moura, em Lisboa, ou na Sé, no Porto, tal a afluência.
Lá rendeu 307 votos. Suficientes, contudo, para os intentos da referida lista!
Dentro da sede do partido, altos responsáveis do PS local andavam de notas e cheques em punho, e bem à vista de todos, a “emprestar” dinheiro a militantes que não tivessem posses para pagar as quotas. Condição única: votar Lista B…
O almoço contou com a presença de muitos militantes do PS que receberam, no dia anterior ao acto eleitoral, um convite, via sms, para o repasto e exortando, de forma ilegal a fazer querer pelos estatutos do partido, ao voto na lista B. Não é proibido fazer qualquer apelo ao voto no período de reflexão eleitoral, ainda que a um órgão interno do partido?!
Eu que não sou militante [nem tão pouco simpatizante, confesso] mas recebi uma dessas mensagens!
Venceu a candidatura mais metódica! Sem dúvida…
Mas…
Um cartaz de publicidade à lista B junto à boca da urna?
Um porco no espeto a financiar votos?
Uma roloute, à frente de todos, para passar cheques e dinheiro vivo para o pagamento de quotas?
Candidatos e militantes ameaçados, por altos responsáveis do PS pertencentes à lista B?
Militantes obrigados a votar à vista de todos?
Cadernos eleitorais fixados dois/três dias antes das eleições, quando os estatutos prevêem a sua fixação 15 dias antes do escrutínio…
Mas afinal, onde ficou o cumprimento dos regulamentos eleitorais?
A quem cabia fiscalizar a legitimidade do acto eleitoral?
Mas afinal vivemos em Portugal ou na República do Congo? Ou viveremos no Iraque e ainda não sabemos…
Mas o que me deixa realmente boquiaberto é a inércia das duas listas derrotadas, que aceitam os resultados “na boa”. “Tá-se bem! Não se passa nada, siga a banda!”
“Impugnar eleições? Para quê!?”
Mas afinal, que raio de gente é esta que faz as trafulhices que bem lhes dá na gana e todos assistem, impávida e serenamente, deixando passar incólume tais comportamentos?
Eu, no lugar dos elementos eleitos pertencentes às listas derrotadas, não aceitava pactuar com tal situação e nem tomava posse na concelhia… Eu agia, reagia, denunciava aos órgãos competentes do PS.
É tempo de dizer basta ao “nacional porreirismo” e ao “deixa andar”.
Lá dizia um presidente: “E andei eu a lutar pelo 25 de Abril para isto!”.
Dou-lhe toda a razão presidente…