Álcool
Mário de Sá-Carneiro
Guilhotinas, pelouros e castelos
Resvalam longemente em procissão;
Volteiam-me crepúsculos amarelos,
Mordidos, doentios de roxidão.
Batem asas de auréola aos meus ouvidos,
Grifam-me sons de cor e de perfumes,
Ferem-me os olhos turbilhões de gumes,
Descem-me a alma, sangram-me os sentidos.
Respiro-me no ar que ao longe vem,
Da luz que me ilumina participo;
Quero reunir-me, e todo me dissipo ---
Luto, estrebucho... Em vão! Silvo pra além...
Corro em volta de mim sem me encontrar...
Tudo oscila e se abate como espuma...
Um disco de oiro surge a voltear...
Fecho os meus olhos com pavor da bruma...
Que droga foi a que me inoculei?
Ópio de inferno em vez de paraíso?...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eternizo?
Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
É só de mim que ando delirante...
Manhã tão forte que me anoiteceu.
1 comentário:
No sofá te espalhas lânguida,
teus joelhos me hipnotizam,
teu movimento sensual,
falsamente despretensioso, me atiça.
Permites-me ver
um pouco mais de ti
num movimento de esconde /mostra que me fascina e excita.
Teus olhos me convidam,
tua boca espera meus beijos,
teu colo denuncia a respiração de quem espera o amor.
Teus joelhos, ah esses joelhos,
mistério que não desvendo,
são o que mais me atrai em ti.
A pele macia e luzidia
dessas articulações sensuais, parece olhos de serpente a me atrair.
Espero teu bote, a picada mortal,
entregue a teus encantos me aproximo e me deixo seduzir de vez pelo calor de teus beijos; pelo frescor de tua pele…ajoelho-me diante de uma deusa, e paradoxalmente, é nos teus joelhos que repousam os meus lábios.
Ah,como é bom sentir teu arrepio,
como é bom sentir a promessa
de mais uma tarde ardente de amor.
Tu, o sofá e eu…apenas os três saberemos o desfecho deste poema.
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