terça-feira, 8 de janeiro de 2008

[ Correio do Leitor ]

«Recordando a minha Irmã Rita,
Ainda vítima de muitos venenos


Vítima da descolonização, como centenas de milhares de outras pessoas, refugiou-se na Figueira da Foz. Aos 23 anos elegeu essa cidade e considerou-a a sua Beira de Moçambique.

Logo ficou conhecida pelo amor incondicional à terra que a recebeu. Foi reconhecida por todos, pela humildade, pelo profissionalismo, pela simpatia, pelo carisma.

Dedicou a sua vida à nova cidade, em detrimento de tudo, da própria família.

Após uma excelente carreira de trinta anos, foi confrontada com uma nova Administração que, pela primeira vez, lhe apontou graves e infundadas acusações.

Procurou solução e (em Novembro de 2006), escreveu uma carta ao Conselho de Administração, solicitando uma atitude face às injúrias proferidas pela administradora executiva.

Raras vezes teve a ousadia de desabafar problemas. Mas este, ao contrário do esperado, era diariamente abordado com a família e amigos íntimos.

Durante sete meses e até ao último dia da sua vida, 28 de Junho deste ano, teve de conviver profissionalmente num ambiente de tensões, pressões, injustiças, ameaças e difamações.

Estava em Aveiro, em trabalho. Sabe-se apenas que um mal-estar a levou, pelo próprio pé, ao Hospital mais próximo, onde pediu ajuda. Duas horas depois teve alta e ainda a caminho do seu automóvel, no parque de estacionamento, acabou por perder a vida.

Como irmão desta Grande Mulher, mística e exemplar, que deixou centenas de verdadeiros amigos em todo o lado e que me deixa saudades para o resto da vida, causa-me estranheza o facto de ela se ter sentido mal, ao ponto de se dirigir a um serviço de urgências. Preferia sempre uma mézinho-terapia que a mantivesse longe da classe médica. Causa-me mesmo muita estranheza que se tenha dirigido voluntariamente e que, duas horas depois, lhe tenham dado alta após um tratamento para náuseas. Mais estranheza me causa, ainda, o silêncio do Instituto de Medicina Legal (de Aveiro) que nunca mais produz o relatório da autópsia, que será sujeito a investigação por parte do Ministério Público da mesma cidade.

Cinquenta e quatro anos.

E que ironia falecer ao serviço da administração que não ouviu o seu apelo.

E que ironia falecer no parque de estacionamento do Hospital onde pediu apoio.

Com o seu desaparecimento, choveram centenas de mensagens de apreço, nacionais e do estrangeiro, de gente conhecida e anónima. Homenagens estatais proferidas e editadas. Bandeira a meia haste durante três dias. Até a tal administradora executiva (e restantes membros) presente nas exéquias.

O único filho, a trabalhar em Angola, chegou a tempo da derradeira cerimónia e conhecendo o estado de espírito da Mãe durante os últimos meses, reagiu. Escreveu para o Sr. Presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz, em Julho, no mês seguinte ao da partida da Mãe, referindo mais pormenores sobre o terror que a Mãe vivera e juntou uma cópia da carta que a própria já havia remetido para o Conselho de Administração da empresa. Solicitou outras informações no âmbito dos seus direitos legais.

Não obteve qualquer resposta e em Outubro enviou nova carta.

Hoje, 14-12-2007, quase seis meses volvidos desde o dia em que a Câmara Municipal da Figueira da Foz deliberou tantos actos simpáticos em função da despedida da funcionária que sempre rotulou de excelente… e a única missiva recebida foi uma Nota de Lançamento, do referido Conselho de Administração, dirigida ao meu sobrinho, contendo um cheque com a informação: “Pagamento de despesas efectuadas com o funeral de …, conforme factura em anexo”.

Uma das assinaturas é ilegível, a outra, com traço Redondo e infantil, vê-se bem que é o nome da administradora executiva.

Desnecessariamente, vou pensar que, porventura, se tenham esquecido de juntar alguma justificação pelo atraso do reembolso. E que, decerto, foi omitida uma palavra de consideração pela desconsideração que a recordação do assunto oferece.

A findar a história está a atitude egoísta e gananciosa do senhorio da casa onde Mãe e filho sempre haviam habitado. Sem motivo nem piedade, e logo após a morte da inquilina, deu seis meses ao filho para abandonar a casa onde “nascera”, onde sempre vivera e na qual cresceu com a Mãe.

Nunca me passou pela cabeça imaginar o final de uma história que, por mero acaso da História, se dissipa na Figueira da Foz.

Como despedida, peço apenas que imaginem o meu descontentamento, face a tanto desrespeito e a tanta injustiça, que desejava ardentemente que não passasse de tanta imaginação!!!

Resta-me manifestar o meu enorme apreço pelos verdadeiros amigos que esta Grande Mulher deixou na Figueira da Foz. Todos sabem a quem me refiro.


Escreve Cármen de Sande Murillo, no seu livro Isaura (através do qual, homenageia a minha irmã): “Ela deixou de respirar porque lhe fazia mal o ar que inalava.”

A minha irmã deixou de respirar porque lhe envenenaram o ar que inalava.


Cascais, 14 de Dezembro de 2007
Mário Jorge Mendonça Lopes **

** Como irmão da Rita, faço questão que os figueirenses tenham conhecimento de alguma coisa (tudo torna-se arriscado!) que me decepcionaram profundamente»



Nota: O(s) conteúdo(s) dos textos expressos no "Correio do Leitor" é/são da inteira responsabilidade do/s autor/es do/s texto/s

2 comentários:

Anónimo disse...

até que enfim uma parte da verdade...
inadmissivel os dirigentes politicos desta cidade enfiarem a cabeça na areia perante tudo o k fizeram a esta senhora...e incompreensivel, como é k tantos k tanto mal lhe fizeram compareceram ao funeral da mesma...a estes tenho 1 nome próprio..."HIPOCRITAS"...
continuem..numa terra onde vale tudo...
até sempre Rita Lopes
ass:TP

Anónimo disse...

Atitude inqualificável de alguns responsáveis...
Mete nojo saber que existe pessoas assim numa cidade pequena.
A eles, vai o meu total desagrado desejando que nunca passem pelo mesmo!!!!